Instituições auxiliam na inclusão social dos deficientes auditivos

Vinicius Camargo – 

Além de não poderem ouvir o canto dos pássaros, o barulho do mar, da chuva caindo, do vento batendo na janela ou qualquer outro som do dia a dia, os surdos também enfrentam diversos outros obstáculos. As oportunidades para os deficientes auditivos são, muitas vezes, restritas, o que faz com que eles não se sintam incluídos na sociedade. No entanto, há instituições que buscam ajudá-los e transformar suas realidades.

Esse é caso da Associação do Amor Inclusivo (AAI), que foi criada em 2017 pela professora de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e Matemática Maria Angela Oliveira Oliveira. Mas, na verdade, a luta da educadora para ajudá-los começou há muitos anos. Em 2006, quando era catequista, conheceu uma jovem surda e, ao notar o potencial que ela tinha, ensinou-lhe Informática, Matemática e Língua Portuguesa. Após alguns meses, a jovem conseguiu emprego em uma multinacional.

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Maria Angela (à esq.) diz que se sente muito feliz por ajudar os surdos (foto: arquivo pessoal)

Percebendo que poderia fazer a diferença na vida dos surdos, Maria Angela passou a ajudar mais pessoas. Em 2010, começou a ministrar aulas de Libras, Português, Matemática, Ciências, Geografia, Informática, Artes e Violão no Laboratório de Ensino Multidisciplinar (LEM), em Sorocaba. Mas ela ainda desejava fazer mais por eles. Foi então que, em 2014, conseguiu um espaço maior no Santuário Santa Filomena para realizar as ações.

No entanto, com o passar do tempo, passou a receber muitas doações e o espaço fornecido pelo santuário ficou pequeno. Até que em setembro de 2017, ela conseguiu realizar seu maior sonho: alugar uma casa grande para desenvolver as atividades. Foi então que nasceu a Associação do Amor Inclusivo (AAI). Setembro, por sinal, é considerado o mês dos surdos. Durante todo o mês, é realizada a campanha Setembro Azul, que celebra as conquistas e relembra a luta da comunidade surda. Essa época inspirou Maria Angela a ir em busca de seu maior objetivo. “O Setembro Azul me motivou a dar um grande passo”, conta.

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Maria Angela Oliveira Oliveira fundou a associação em setembro de 2017 (foto: arquivo pessoal)

Hoje, a associação oferece oficinas de Alfabetização e Letramento, Português, Libras, Braile, Matemática, Desenho, Corpo e Movimento, Arte-Educação, Pintura, Artesanato, Costura, Capoeira, Dança, Informática, Música, Alimentação Saudável e Saúde Acessível. O local, que recebe pessoas de várias cidades, atende 20 alunos.

Segundo Maria Angela, a instituição acolhe pessoas de todas as idades. Os voluntários buscam identificar as dificuldades e conhecer os talentos de cada surdo. Dessa maneira, é possível ajudá-los a superar os obstáculos que enfrentam e, também, explorar o potencial que possuem. Tudo isso visando fazer com que a inclusão deles na sociedade seja efetiva.

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A instituição reconhece o potencial e os talentos de cada um dos atendidos (foto: arquivo pessoal)

No entanto, segundo ela, esse ainda é um grande desafio, visto que muitas empresas, por exemplo, contratam surdos apenas para o cumprimento de cotas. Além disso, não lhes oferecem boas oportunidades. “Muitos deficientes auditivos e outros deficientes ficam nas empresas sem fazer quase nada ou apertando parafuso o dia inteiro por anos e anos”, conta. E o objetivo da AAI é justamente tentar mudar essa realidade. “A gente sabe que eles podem ser incluídos com qualidade na escola e no mercado de trabalho”, completa.

Maria Angela diz que a falta de auxílio pode prejudicar muito a vida dos surdos. “Se não tem apoio, não tem comunicação. E sem comunicação, os deficientes auditivos ficam na periferia, na margem [da sociedade]”, ressalta. Além da oferta de oportunidades, ela defende que outra solução para a desigualdade seria o desenvolvimento de uma sociedade bilíngue. Para a professora, além da língua portuguesa, as pessoas também deveriam falar Libras, considerada a segunda língua brasileira desde 2002.

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A oficina de braile é uma das atividades oferecidas pela AAI (foto: arquivo pessoal)

Se todos usassem as mãos e os lábios para se comunicar, defende a professora, seria possível incluir os surdos em todas as conversas, sem qualquer tipo de distinção. “Quando eu falo com as mãos e com os lábios simultaneamente, tendo ao meu redor pessoas ouvintes e surdas, atendo a todos os meus amigos surdos e ouvintes”, diz. “Assim, não preciso ficar ora conversando em Libras com o surdo, ora falando com os lábios em português com os ouvintes”, completa.

Apesar dos desafios que enfrenta, Maria Angela afirma que se sente muito feliz por realizar esse trabalho. Para ela, ver que a instituição pode, de alguma forma, fazer a diferença na vida dos surdos é a melhor recompensa. “A alegria dos surdos é a nossa alegria.”

Os deficientes auditivos que desejam fazer parte da Associação do Amor Inclusivo podem entrar em contato pelo telefone 99774-1042 ou pelo e-mail inclusivo@gmail.com. Também é possível se inscrever por meio blog da instituição ou ainda fazer uma visita ao local. A inscrição para voluntários também deve ser realizada pelo blog.

Acesse a página da instituição no Facebook

Visite o blog da associação

Associação dos Deficientes Auditivos de São Roque

Criada há 25 anos, a Associação dos Deficientes Auditivos de São Roque (ADAS) atende crianças da cidade e de toda a região. Antes de sua fundação, a cidade não possuía instituições que atendiam deficientes auditivos, e os moradores precisavam buscar tratamento em municípios vizinhos.

A assistente administrativa da instituição, Heloiza Pedroso, conta que começou a atuar no local como voluntária e acabou se apaixonando pela cultura surda. Sua mãe é uma das fundadoras da instituição. Segundo ela, a ADAS busca proporcionar melhorias na qualidade de vida das crianças atendidas. “Uma ajudinha ‘boba’ é uma mudança incrível”, diz.

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A ADAS foi a primeira instituição de São Roque para deficientes auditivos (foto: divulgação)

A instituição oferece atendimento fonoaudiológico, acompanhamento psicológico e auxilia os surdos no mercado de trabalho e na escola. Os funcionários vão até as empresas e instituições de ensino para ensinar os profissionais que nelas atuam as melhores maneiras de se trabalhar com os deficientes auditivos. Além disso, a ADAS também oferece diversos cursos e aulas de Libras.

Heloiza diz que ADAS também busca auxiliar na inclusão dos deficientes auditivos e fazer com que o potencial deles seja reconhecido por todos. Segundo ela, o objetivo da associação é “mostrar que eles são surdos e não são invisíveis.”

Para conhecer mais sobre a ADAS, visite o blog da associação e acesse a página no Facebook.

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